domingo, 8 de novembro de 2009

A Sociologia e Amarelo Manga




"Amarelo Manga", de Cláudio Assis, é um filme de fortes interpretações e que vai contra os padrões cinematográficos que a cada dia vem se fortificando. As histórias de vida desenrolam-se no espaço de um modesto hotel, o Texas administrado por Bianor que no desenrolar da historia é encontrado morto em seu sofá predileto. Ao redor deste hotel não só a morte do proprietário, mas inúmeras cenas de putrefação como a de animais sendo mortos sem dó e piedade, abusos sexuais, tentativas sujas de conseguir o que quer dão ênfase a um filme coberto de invasões de privacidade e mudanças de paradigmas.
Em "Amarelo Manga" se encontram trabalhadores, pedreiros, açougueiros, vendedores, marginalizados, homossexuais, donas de casa, vendedores ambulantes, traficante, ex-prostituta, o que da muito pano para manga, um trocadilho para o nome do filme. Em seu composto de personagens, destacam se o açougueiro Wellington e seu machismo e infidelidade; Daise como um objeto que serve aos seus clientes e sempre sofre abusos dos mesmos; Kika sendo uma religiosa evangélica que se perverte a partir de uma realidade difícil que enfrenta. e Dunga como um homossexual que luta para conquistar Wellington, o que não acontece.
É um filme que vai contra uma Indústria Cultural de estereótipos e modelos extremamente consumistas. Ele pode chocar e repugnar os mais sensíveis, onde tudo é muito forte e visceral, mostrado com todas as cores, todos os ângulos.A cor é citada como exemplo de tudo o que há de ruim, feridas purulentas, hepatite, dentes podres,mostra uma sociedade de marginalizados no contexto nordestino com seres miseráveis condenados à infelicidade e vivos pelo desejo padrão que não bate com uma sociedade de massas consumista e cega pelo desejo de objetos.
Neste nordeste seu preenchimento se dá pela solidão, fome e luta por sobrevivência e prazeres carnais e não em fama, tecnologia e inovações. Trata-se de um filme rico em possibilidades de leitura tanto do ponto de vista da cinematografia quanto da representação do povo e da cultura brasileira, pelo cinema.